sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A Galáxia da Internet: a rede é a mensagem

Manuel Castells é, de certo, um pioneiro nas pesquisas histórico-sociológicas sobre a sociedade em rede. A seguir, uma recensão do seu A Galáxia da Internet. A rede é a mensagem.



Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Numa referência ao que McLuhan chamou de “A Galáxia de Gutenberg”, criada a partir da difusão da máquina impressora no Ocidente, Manuel Castells denomina seu livro de “A Galáxia da Internet”, que no decorrer de seus capítulos transmite uma análise e uma reflexão sobre as transformações sociais, econômicas, políticas e culturais produzidas no final do século XX, com a emergência da Internet e a sua conseqüente utilização em escala global.
O livro possui uma introdução – “A rede é a Mensagem” – e uma conclusão – “Os desafios da sociedade em rede”. O conteúdo principal organiza-se em nove capítulos, cada qual com uma pequena introdução ao tema que será desenvolvido e com a respectiva bibliografia no final de cada capítulo.
A Galáxia da Internet inicia fazendo um panorama da história da Internet. O primeiro capítulo, “Lições de História da Internet”, traz a descrição de uma seqüência de acontecimentos relevantes da formação da Internet, desde 1962, passando pela Arpanet, até cerca de 1995, quando a rede começava a se consolidar. Também expõe a importância do movimento Open Source, a cultura hacker, e o conceito de copyleft (que seria o avesso do conceito de copyright) na estruturação e desenvolvimento social e técnico da Internet.
O segundo capítulo, “A Cultura Internet”, trata ainda do contexto de criação da Internet, mas do ponto de vista social e cultural. O autor esclarece que a cultura da Internet está diretamente ligada ao seu desenvolvimento tecnológico, e explica como o código aberto possibilitou a maior utilização, modificação e replicação do conteúdo da rede, e da rede em si. A partir daí surgem as quatro camadas culturais que deram forma colaborativamente à Internet, que o autor desenvolve nesse capítulo.
A expansão dos setores mais dinâmicos da economia mundial, após a expansão da Internet, é abordada no capítulo três, “Negócios eletrônicos e a nova economia”. Castells sugere o termo e-economia para definir esta nova economia, que segundo ele “emerge do interior da velha (economia), como resultado da utilização da Internet pelas empresas para os seus próprios fins e em contextos específicos”.
O autor avalia e explora o surgimento de novas formas de interação social em “Comunidades virtuais ou sociedade em rede?”, quarto capítulo da obra. Ele expõe algumas questões como os perigos da comunicação em rede, o isolamento social do indivíduo, a quebra da comunicação social e da vida familiar, e o desempenho de fantasias on-line – onde os indivíduos vivem realidades virtuais, fugindo do mundo real. Situações que podem existir pontualmente, mas que não são generalizáveis, tornando-se “difícil chegar a uma conclusão definitiva sobre os efeitos que a rede pode ter sobre o grau de sociabilidade” (Castells, 2004).
Nos capítulos cinco e seis, respectivamente “A política da Internet I: redes de computadores, a sociedade civil e o Estado” e “A política da Internet II: Privacidade e liberdade no ciberespaço”, Castells contextualiza o controle político das redes, e a relação existente entre governo e sociedade, e o poder de detenção da informação. Ele mostra como a liberdade e a privacidade na Internet se tornou conseqüência direta da sua comercialização. Volta-se novamente ao conflito da liberdade: Por um lado, a ideologia libertária que tenta a todo o custo conservar a Internet como este novo terreno de oportunidades. Por outro lado, um grau de controle que aumenta exponencialmente, com a crescente mobilização dos recursos dos governos para podar esta liberdade.
Em “Multimídia e a Internet: Hipertexto além da convergência”, capítulo sete, numa tentativa de compreender os novos modelos de comunicação, o autor analisa a convergência entre Internet e multimídia. Ele reflete sobre as práticas midiáticas atuais que se baseiam na Internet, tais como o compartilhamento de áudio e vídeo, os jornais disponíveis on-line, entre outros. Também conceitualiza e distingue os meios de comunicação dos meios de entretenimento, dentro e fora da rede, e a personalização do conteúdo hipertextual.
Castells analisa e reflete no penúltimo capítulo de seu livro – “Geografia da Internet: lugares em rede” – um dos aspectos mais importantes na Era da Internet: a desigualdade de implementação e de expansão da Internet, que provoca uma lacuna cada vez maior entre o primeiro e o terceiro mundo. O autor faz a análise da geografia da Internet sob três aspectos: a geografia técnica (distribuição física), a geografia dos utilizadores, e a geografia econômica de produção da Internet (concentração dos produtores de conteúdos Internet). Nos três pontos, o autor identifica uma correlação entre o uso da Internet e a dimensão das cidades e também que as zonas mais pobres do planeta são as mais afastadas das infra-estruturas da Internet, independentemente da sua densidade populacional.
No último capítulo, “A divisão digital numa perspectiva global”, Manuel Castells retoma a questão abordada no capítulo anterior. Estuda a relação existente entre os níveis de acesso à Internet e as fontes sociais da desigualdade, e como a Internet contribui para que se acentuassem as diferenças sociais. Ele conclui que Internet “não é apenas uma tecnologia: é o instrumento tecnológico e a forma organizativa que distribui o poder da informação, a geração de conhecimentos e a capacidade de ligar-se em rede em qualquer âmbito da atividade humana” (Castells, 2004), e que a sociedade em rede poderia representar uma possibilidade de participação e interação democrática, entre governos e cidadãos, na construção de um mundo melhor, concretizando a disseminação da Internet de fato para todos os cidadãos ao redor do mundo.
A obra de Castells proporciona ao leitor, de forma literal e ilustrativa, uma viagem pela Galáxia da Internet, com uma linguagem clara e idéias bem estruturadas no que diz respeito aos termos relacionados à Internet – o que torna a leitura instigante e fascinante, principalmente para quem está inserido no meio da comunicação digital. O autor apresenta de maneira seqüencial os pontos mais importantes referentes à criação histórica, cultural e política da Internet e a correlaciona à emergência e a consolidação de uma nova economia, às novas formas de sociabilidade em rede, participação social e intervenção política. Uma leitura fundamental para quem deseja ir além ao entendimento da Internet e da sociedade em rede.
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