Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Numa
referência ao que McLuhan chamou de “A Galáxia de Gutenberg”, criada a partir
da difusão da máquina impressora no Ocidente, Manuel Castells denomina seu
livro de “A Galáxia da Internet”, que no decorrer de seus capítulos transmite
uma análise e uma reflexão sobre as transformações sociais, econômicas,
políticas e culturais produzidas no final do século XX, com a emergência da
Internet e a sua conseqüente utilização em escala global.
O
livro possui uma introdução – “A rede é a Mensagem” – e uma conclusão – “Os
desafios da sociedade em rede”. O conteúdo principal organiza-se em nove
capítulos, cada qual com uma pequena introdução ao tema que será desenvolvido e
com a respectiva bibliografia no final de cada capítulo.
A
Galáxia da Internet inicia fazendo um panorama da história da Internet. O
primeiro capítulo, “Lições de História da Internet”, traz a descrição de uma
seqüência de acontecimentos relevantes da formação da Internet, desde 1962,
passando pela Arpanet, até cerca de 1995, quando a rede começava a se
consolidar. Também expõe a importância do movimento Open Source, a cultura
hacker, e o conceito de copyleft (que seria o avesso do conceito de copyright)
na estruturação e desenvolvimento social e técnico da Internet.
O
segundo capítulo, “A Cultura Internet”, trata ainda do contexto de criação da
Internet, mas do ponto de vista social e cultural. O autor esclarece que a
cultura da Internet está diretamente ligada ao seu desenvolvimento tecnológico,
e explica como o código aberto possibilitou a maior utilização, modificação e
replicação do conteúdo da rede, e da rede em si. A partir daí surgem as quatro
camadas culturais que deram forma colaborativamente à Internet, que o autor
desenvolve nesse capítulo.
A
expansão dos setores mais dinâmicos da economia mundial, após a expansão da
Internet, é abordada no capítulo três, “Negócios eletrônicos e a nova
economia”. Castells sugere o termo e-economia para definir esta nova economia,
que segundo ele “emerge do interior da velha (economia), como resultado da
utilização da Internet pelas empresas para os seus próprios fins e em contextos
específicos”.
O
autor avalia e explora o surgimento de novas formas de interação social em
“Comunidades virtuais ou sociedade em rede?”, quarto capítulo da obra. Ele
expõe algumas questões como os perigos da comunicação em rede, o isolamento
social do indivíduo, a quebra da comunicação social e da vida familiar, e o
desempenho de fantasias on-line – onde os indivíduos vivem realidades virtuais,
fugindo do mundo real. Situações que podem existir pontualmente, mas que não
são generalizáveis, tornando-se “difícil chegar a uma conclusão definitiva
sobre os efeitos que a rede pode ter sobre o grau de sociabilidade” (Castells,
2004).
Nos
capítulos cinco e seis, respectivamente “A política da Internet I: redes de
computadores, a sociedade civil e o Estado” e “A política da Internet II:
Privacidade e liberdade no ciberespaço”, Castells contextualiza o controle
político das redes, e a relação existente entre governo e sociedade, e o poder
de detenção da informação. Ele mostra como a liberdade e a privacidade na
Internet se tornou conseqüência direta da sua comercialização. Volta-se
novamente ao conflito da liberdade: Por um lado, a ideologia libertária que
tenta a todo o custo conservar a Internet como este novo terreno de
oportunidades. Por outro lado, um grau de controle que aumenta
exponencialmente, com a crescente mobilização dos recursos dos governos para
podar esta liberdade.
Em
“Multimídia e a Internet: Hipertexto além da convergência”, capítulo sete, numa
tentativa de compreender os novos modelos de comunicação, o autor analisa a
convergência entre Internet e multimídia. Ele reflete sobre as práticas
midiáticas atuais que se baseiam na Internet, tais como o compartilhamento de
áudio e vídeo, os jornais disponíveis on-line, entre outros. Também
conceitualiza e distingue os meios de comunicação dos meios de entretenimento,
dentro e fora da rede, e a personalização do conteúdo hipertextual.
Castells
analisa e reflete no penúltimo capítulo de seu livro – “Geografia da Internet:
lugares em rede” – um dos aspectos mais importantes na Era da Internet: a
desigualdade de implementação e de expansão da Internet, que provoca uma lacuna
cada vez maior entre o primeiro e o terceiro mundo. O autor faz a análise da
geografia da Internet sob três aspectos: a geografia técnica (distribuição
física), a geografia dos utilizadores, e a geografia econômica de produção da
Internet (concentração dos produtores de conteúdos Internet). Nos três pontos,
o autor identifica uma correlação entre o uso da Internet e a dimensão das
cidades e também que as zonas mais pobres do planeta são as mais afastadas das
infra-estruturas da Internet, independentemente da sua densidade populacional.
No
último capítulo, “A divisão digital numa perspectiva global”, Manuel Castells
retoma a questão abordada no capítulo anterior. Estuda a relação existente
entre os níveis de acesso à Internet e as fontes sociais da desigualdade, e
como a Internet contribui para que se acentuassem as diferenças sociais. Ele
conclui que Internet “não é apenas uma tecnologia: é o instrumento tecnológico
e a forma organizativa que distribui o poder da informação, a geração de
conhecimentos e a capacidade de ligar-se em rede em qualquer âmbito da
atividade humana” (Castells, 2004), e que a sociedade em rede poderia
representar uma possibilidade de participação e interação democrática, entre
governos e cidadãos, na construção de um mundo melhor, concretizando a
disseminação da Internet de fato para todos os cidadãos ao redor do mundo.
A
obra de Castells proporciona ao leitor, de forma literal e ilustrativa, uma
viagem pela Galáxia da Internet, com uma linguagem clara e idéias bem
estruturadas no que diz respeito aos termos relacionados à Internet – o que
torna a leitura instigante e fascinante, principalmente para quem está inserido
no meio da comunicação digital. O autor apresenta de maneira seqüencial os
pontos mais importantes referentes à criação histórica, cultural e política da
Internet e a correlaciona à emergência e a consolidação de uma nova economia,
às novas formas de sociabilidade em rede, participação social e intervenção
política. Uma leitura fundamental para quem deseja ir além ao entendimento da
Internet e da sociedade em rede.
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