Por Edmilson Lopes Júnior
(Sociólogo, UFRN)
Envelhecer foi se tornando obsceno. De repente, temos que ser todos
eternamente jovens. Talvez Mick Jagger seja o ícone desse imaginário. Como se
tudo fosse assim: a gente nasce, cresce, fica adolescente, jovem e vive como
jovem e um dia morre. Balela. A gente envelhece, sim. A gente vai esquecendo
coisas, também. Palavras que não vêm, conexões de eventos que demoram a
ascender à consciência... Mas, para muita gente, envelhecimento foi guindado à
condição de palavra proibida. Como câncer,
antigamente. Lá na Várzea do Apodi, ninguém falava câncer... Pronunciava-se
"aquela doença". E de forma um tanto conspiratória e amedrontada.
Hoje, a velhice é negada. Um elogio grande, nestes dias, é dizer que a pessoa
"continua a mesma". Eu, não, não continuo o mesmo. Para o bem e para
o mal, mudei. E, sim, estou envelhecendo. E as marcas ficam em todos os
lugares, embora, algumas vezes, você ainda pense que o seu corpo é aquele de
antes e que vai te obedecer prontamente. Mas, não. Dia desses, subindo as
escadas do meu prédio, calculei mal o próximo batente e me esparramei na
escadaria. Nos batentes ficaram as compras que levava nas mãos, e, sim, um
pouco do controle sobre o eu que definia como parte fundamental de "mim
mesmo" (meu corpo). Sim, porque, na queda, vi-me tentando, como direi?, a mitigar
os seus efeitos. Pude apenas proteger a cabeça. Não, não tive maiores
consequências, exceto um pequeno corte na perna, a essa altura já sarado. A
gente aceita as idades quando elas são carregadas semanticamente: idade dos
arroubos, idade da paixão, idade da razão... e até uma certa "idade da
maturidade". Só. Nós, os vivos, continuaremos a envelhecer, é
inexorável... Ah, mas não aquelas especulações do Yuval Noah Harari, no HOMO
DEUS? Tá, eu sei. Mick Jagger tá aí, quase jovem. Aliás, o ícone desse tempo
que não passa. Joe Cocker, não. O cara morreu velho, que sinistro! Você vai lá
e clica "Joe Cocker" no youtube e aparece um cara cantando With a little help from my friends no
Festival de Woodstock e um velho senhor também cantando a mesma música. Você se
choca? Sei lá, acho verdadeiro e prefiro isso ao mito que é o Mick. E a Jane
Fonda? Jane Fonda é a demonstração de que envelhecemos, sim. Ah, porque estou
falando de Jane Fonda? Sei lá, eu estava falando de uma queda, de envelhecimento...
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Texto socializado pelo autor em rede social, sob o título 'A Minha Queda'.