segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

No universo do jazz: Louis Armstrong e o canto a um 'mundo maravilhoso'

Continuando a "estadia" no universo do jazz. E para referir aquele que pode ser considerado a própria personificação deste estilo: Louis Armstrong. O seu talento incomensurável, o seu jeito caraterístico, a voz que cantou por 'Um Mundo Maravilhoso'. Abaixo, um artigo a seu respeito do jornalista Ricardo Soneto e, claro, também, um vídeo com a inesquecível  What a Wonderful World. 

O que é um mundo maravilhoso? 





Passar uma tarde em um sebo olhando vinis pode elevar lembranças…
Me recordo a primeira vez que ouvi as gravações dos Hot Five e dos Hot Seven (feitas entre 1925 e 1929), o momento da invenção do jazz moderno, a arte do solista afirmado ao grupo, feito pelo Sr. Louis Armstrong. Até aquela época, na divertida atitude prepotente de quem tem dezessete anos, achava que Pops (um apelido. Pode usar Satchmo, se quiser. Mas Pops vai denotar mais intimidade. E tome prepotência) era aquele músico de jazz que tocava trompete bem, estava sempre alegre e ria muito. Meu Deus! Envelhecer tem suas vantagens (uma ou duas)! Entre elas descobrir o que significa Louis Armstrong.
Falar de Louis Armstrong é como falar dos Beatles: uma redundância e um prazer. E o dilema: o que se pode falar mais sobre eles? Existe o mito de que o “verdadeiro conhecedor de jazz” (seja lá o que isso seja) pode reconhecer o artista apenas escutando. Bobagem. O crítico Leonard Feather manteve durante anos, na revista “Down Beat”, o “Blindfold Test”, onde convidava músicos a avaliarem gravações sem que eles soubessem quem eram os artistas envolvidos. Uma forma inteligente de obter opiniões livres das pressões do peso dos nomes (quem vai ter a ousadia de considerar um solo de Coleman Hawkins “mediano”?). Pois bem, ocorreram casos em que os próprios músicos não se reconheciam (é sério!). Suponho que alguns, após terem se auto-massacrado, tenham aumentado a carga horária no analista. Enfim…
Existem, sim, gravações seminais que se tornaram marcos na história do gênero. Essas são identificáveis nos primeiros acordes. Retornaremos à esse ponto. Porém…
Alguns artistas podem ser identificados na hora. Erroll Garner e suas mãos livres, como artistas completamente independentes, percorrendo o teclados com as notas graves dançarinas da mão esquerda e os saltos felizes com a direita. Noventa por cento de chance de identificação. E Thelonius Monk? Como um equilibrista no arame ele percorria a corda desafiando o quase desequlíbrio da dissonância no uso único das blue notes. Impossível não identificar.
E temos Pops (para os íntimos). O timbre rico, se desencorpando para a assinatura pessoal parecido com o sol: só ele brilha. E não por ser estrela, mas por que é quente, luminoso e faz a vida florescer.
O que se pode ainda falar de Pops? Em “Manhattan”, Woody Allen (clarinetista, recordem) elabora uma lista das coisas que, para ele, fazem a vida valer a pena. A seleção vai culminar no rosto bonito de uma jovem que apenas lhe dedicava todo o carinho do mundo (apenas?). Entre os ítens, “Potato Head Blues”, uma gravação de Louis e seus Hot Five.
Nada podia fazer mais sentido.
É necessário falar da emoção de se escutar “West End Blues” pela primeira vez? Oh, sim! No futuro o adolescente descobrirá a relevância da faixa por sintetizar a importância desse conjunto de gravações. O solo inicial de Pops, livre das convenções do grupo, que é chamado a participar de uma conversa com o trompete. Então isso era o jazz moderno? Então por isso Louis pode ser considerado, por alguns, o músico mais importante do século XX? Ok! Existe uma polêmica em torno, pois Stravinsky ocupou o mesmo período (mas o pós-adolescente não vai se furtar a juntar ombros com o exército feliz que defende o som da corneta que os lidera).
Tarde num sebo. E se encontra uma caixa com LPs contendo o conjunto de gravações históricas dos Hot Five e dos Hot Seven (e mais algumas gemas). Será que algum adolescente vai encontrá-la para iniciar uma vida de aventuras?
E ouvir, através dos anos, seus discos de Satchmo para um permanente rejuvenescer?

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